Mais uma noite de calor extremo, como muitas outras na minha vida, noite essa acompanhada da insônia, já costumeira, a qual nem o remédio respeita. Se estivesse nevando lá fora as insatisfações seriam as mesmas, então por que colocar no clima a culpa que cabe a nós mesmos? O vizinho é culpado, no máximo de reconhecimento, ele é um pouco mais culpado que nós, ou tão culpado tanto. Nós? Porquê usar o plural? Mais uma artimanha para que eu possa me libertar do sentimento de culpa dos deslizes de cada dia, a provável desculpa seria a tentativa de fazer fingir que o plural serviria para que o "caro leitor" se sentisse como eu me sinto: culpado e impotente; mas não. Essa transmissão de culpa só seguiria adiante, fazendo com que o leitor também pensasse no vizinho, no padeiro, no cara no assento preferencial do ônibus, cutucando o nariz com o dedo e fazendo isso enquanto poderia ceder o lugar pra alguém, isso tudo seria pensado, matutado, triturado sem a menor chance de que o